Para aprender, as redes neuronais artificiais têm de ser alimentadas com dados. Este trabalho de recolha, classificação e verificação de dados é efectuado por trabalhadores mal pagos—os chamados micro-trabalhadores—em plataformas como a Amazon Mechanical Turk, a Appen, a Clickworker e a Microworkers.
Há uma promessa de liberdade e meritocracia: quanto mais se trabalha, mais se recebe—em dólares americanos. Para os brasileiros, parece uma oportunidade. No entanto, um estudo recente da UFMG e do DipLab mostrou que, no Brasil, esses trabalhadores passam muitas horas por dia realizando microtarefas e recebem menos do que a média mundial: apenas US $1,90 por hora.
Os microtrabalhadores brasileiros realizam tarefas como moderar feeds, classificar fotos, transcrever áudios e até fotografar coisas para treinar novas tecnologias. As tarefas são repetitivas e, em muitos casos, insalubres. A pesquisa mostra que a maioria são mulheres com boa escolaridade—com renda inferior à média brasileira. Elas passam muitas horas por dia realizando microtarefas e, apesar de não poderem criar associações trabalhistas, acabam organizando grupos informais no WhatsApp.
Quem são essas empresas intermediárias - que muitas vezes subcontratam pessoas no Brasil—e quem são os mais contratados? Campanhas políticas? Grandes empresas de tecnologia? Quem está se beneficiando—e lucrando—com o trabalho mal pago no Brasil? Como as tarefas são feitas e que tipo de violações trabalhistas e de direitos humanos ocorrem durante esse trabalho? Quais são os efeitos dessa nova força de trabalho nos aspectos sociais e políticos?
Esta investigação analisa de perto essa força de trabalho clandestina, seguindo a longa cadeia de trabalhadores terceirizados e precarizados.