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Pulitzer Center Update January 10, 2025

Legados: Evento sobre violências na Amazônia inclui ‘olhar local’ e promove redes de pesquisadores

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Text: Amazon Underworld, Crime and Corruption in the Shadows of the World's Largest Rainforest. Illustration: cash, gold nuggets, a knife, and an armed soldier over a black background.
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Journalists work to uncover crime dynamics in the Amazon.

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Imagem por Maria Rosa Darrigo. Brasil.

Novembro, 2024 – Pressionada pelos conflitos por usos da terra e por atividades ilegais, a Amazônia tem índices de violência bem acima da média brasileira, com danos tanto à população como à biodiversidade. A taxa de violência letal na região é de 32 mortes a cada grupo de 100 mil habitantes, ficando cerca de 40% acima da média nacional (23 óbitos por 100 mil), de acordo com o último estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, publicado em dezembro de 2023 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Além disso, há uma interiorização da violência e a expansão de facções criminosas — dos 772 municípios da região, ao menos 260 têm presença desses grupos.  

Com base em dados desse tipo, além de diversas reportagens e projetos (como realizados pelos jornalistas Hyury Potter e Bram Ebus) que focam as formas de crime na Amazônia surgiu o módulo especial “Mercados ilegais e violências na Amazônia: histórias de garimpos, grilagens, tráficos e desmatamentos”, realizado pelo Pulitzer Center em parceria com a Universidade Federal do Amazonas. O evento encerrou uma série com outros cinco módulos da formação chamada “Amazônia no Antropoceno: reportando o presente e discutindo o futuro da floresta”, promovida em 2022 e 2023 também pelo Pulitzer Center com 5 universidades públicas brasileiras localizadas na região Norte.

Ao reunir vozes de diversas regiões da Amazônia no módulo especial, ficou evidente que as violências enfrentadas por comunidades locais são comuns, frutos de um modelo de desenvolvimento que, apoiado pelo Estado e poderes regionais, perpetua um ciclo de exploração nos territórios. Grilagem, uso abusivo de agrotóxicos, desmatamento para extração de madeira e o avanço do garimpo ilegal figuram como problemas centrais, evidenciando a repetição histórica de práticas predatórias.  

“Ouvir depoimentos das pessoas que são da Amazônia traz uma experiência de vida, de luta e de resistência extremamente rica. É importante dar voz e nome a quem está na frente, no dia a dia. Precisamos pensar esse novo modo de discutir, de reportar de forma mais crítica para traçar caminhos. As filosofias, ideias e soluções vão sair da Amazônia, seja das universidades, dos coletivos, dos povos”, diz a gerente de programas do Pulitzer Center, Maria Rosa Darrigo, organizadora do evento, no encerramento do módulo.

Vivendo há anos sob ameaça, Maria Ivete dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (PA), conta como é sua rotina. “Nosso território, onde eu vivo, é meu lugar de vida, onde acho tudo que preciso para ser feliz. De 2007 a 2017 entrei no programa de proteção. Pense no impacto disso na vida de uma pessoa. Naquele período tinha pistoleiros contratados para me matar. Quando se fala no programa, não é tudo que imaginamos, que garante proteção física e psicológica. Nem dá para mensurar de onde a gente busca forças para continuar. Mas precisa continuar porque tem um território, tem vida. É nossa cultura, nossa comida que a gente produz de forma agroecológica”, relata.  

Santos participou da mesa-redonda que tratou das Visões do Tapajós juntamente com Hyury Potter, jornalista e bolsista do Pulitzer Center, e Sara Pereira, coordenadora da FASE Amazônia, uma organização não-governamental que atua em projetos de desenvolvimento regional e alternativas, como o agroextrativismo e o cooperativismo.  

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Imagem por Maria Rosa Darrigo. Brasil.

Outras duas mesas trataram das visões da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru e da região Brasil-Venezuela. Na primeira estiveram presentes Bram Ebus, jornalista e bolsista do Pulitzer Center; Almerio Wadick, do Conselho Inidigenista Missíonário (CIMI), e Yura Marubo, assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIJAVA), com moderação do professor Fábio Candotti, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Participaram da segunda Júnior Nicácio, assessor jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR); Raphael Alves, fotógrafo, e Rodrigo Chagas (UFRR), com moderação da jornalista Rosiene Carvalho.    

Para Candotti, que contribuiu com a organização do módulo especial, as discussões sobre violências na Amazônia têm sido marcadas por uma perspectiva dominante de que o crime na região se reduz à expansão de facções do Sudeste.  

“Quando se dá voz a lideranças, especialmente mulheres, a jornalistas e a pesquisadores que estão na ponta do processo, destaca-se uma situação bem mais complicada, envolvendo desde atores locais até políticas de estado que contribuem na perpetuação dessa violência”, avalia Candotti, que é coordenador do coletivo de pesquisa “ILHARGAS — Cidades, Políticas e Violências” — considerado uma referência em estudos desse tipo.  

Cada um dos módulos de formação, realizados em diferentes cidades do Pará, Amazonas e Acre, abordou um tópico de interesse da região, com reflexo em toda a Amazônia, atingindo mais de 800 estudantes universitários no total. O objetivo da formação foi gerar debates de alto nível sobre os problemas sociais, ambientais e climáticos a partir das vivências e experiências dos povos da Amazônia, construindo possibilidades e respostas para as diferentes crises pelas quais a floresta passa, escutando e aprendendo com conhecimentos de diferentes fontes.   

“O evento permitiu uma aproximação com jornalistas que estão investigando questões locais e podem dar uma visão complementar a nós pesquisadores. Por outro lado, conseguimos contribuir com estudos que a academia está produzindo. Além disso, no meu caso, os debates alimentaram um artigo publicado pelo Ipea que deu ainda mais visibilidade ao tema”, completa Candotti.   

Em abril, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) incluiu no repositório de conhecimento o artigo “Muito além das facções: uma agenda de pesquisas sobre ilegalismos, violência e Estado na Amazônia”, que discute, entre outros pontos, como as violências locais são pensadas por discursos originados de fora da região, sobretudo ao diagnóstico da “ausência de Estado” e da “expansão das facções”. 

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Imagem por Maria Rosa Darrigo. Brasil.

Resultado semelhante teve o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima Rodrigo Chagas, que também participou do módulo especial. “Além de estreitar laços com jornalistas que estiveram no evento, articulamos redes com pesquisadores, como professor Candotti. Ouvir lideranças dos territórios foi fundamental para entender mais o que acontece nas comunidades, nos sindicatos rurais e em outras áreas da Amazônia”, conta Chagas.

Pesquisador sênior no Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Chagas diz que em breve deve publicar um artigo para tratar de uma série de entrevistas com lideranças do território Médio Juruá, no Estado do Amazonas, tratando de narcotráfico e mercado ilegal de animais. As conversas foram realizadas durante uma viagem do pesquisador à região, resultante de um convite após o evento.  

“Iniciativas como essa do Pulitzer são fundamentais para compartilhar conhecimento, especialmente em uma região em que o financiamento para pesquisa ainda é precário ou quase inexistente”, diz Chagas. 

Vários olhares — O objetivo do curso foi oferecer a estudantes informações e discussões para ajudar em uma leitura crítica sobre os desafios enfrentados pelos moradores da região que pensam, vivem e trabalham na Amazônia frente à expansão de economias extrativistas ilegais e do crescimento da violência armada.   

“A ideia foi reunir um conjunto diversificado de produtores de conhecimento para um diálogo sobre as situações locais. Ao ouvi-los percebemos que há um entrelaçamento das violências entre as regiões, envolvendo desde conflitos históricos até mercados ilegais, como o de pescado. Incluir o olhar local abre frentes de discussões não percebidas”, avalia Candotti.   

Assista às mesas-redondas aqui. Você também pode ler reportagens que tratam de crimes na Amazônia produzidas com o apoio do Rainforest Journalism Fund (RJF). Por meio do Pulitzer Center, o RJF apoia projetos de reportagens originais com temas de florestas tropicais no mundo, entre eles, o desmatamento e as mudanças climáticas. 

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aerial view of a small settlement set around a dirt airstrip in the middle of thick vegetation
English

This project examines crime groups working in the Amazon rainforest.

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